quarta-feira, 5 de maio de 2010

Revista Manuelzão - N° 55

O primeiro ponto discutido nesse número, “A degola do Rio das Velhas”, mostra a proposta de construção de uma barragem na principal calha do Rio das Velhas. A intenção é melhorar a vazão do Rio São Francisco e como conseqüência possibilitar a realização da sua transposição. Porém, o aumento da vazão não significa necessariamente melhorar a qualidade das águas do rio. Uma forma mais inteligente seria recuperar o rio não permitindo que nele cheguem efluentes industriais, esgotos e produtos químicos da agropecuária. Quanto ao volume de água, seria melhor recuperar as nascentes e investir na reposição de matas ciliares e criar bacias de decantação para acabar com o assoreamento.
A segunda parte trata da logística reversa. Esta consiste em operações de reaproveitamento de produtos e materiais. Um exemplo é o reaproveitamento de garrafas de refrigerante que reduz muito a quantidade de lixo produzida. A logística reversa também é adotada no recolhimento de produtos que são nocivos ao ambiente devido à demora de sua decomposição ou por liberar agentes nocivos, como baterias, pneus e embalagens de agrotóxicos. Essa medida é tão importante que possui até mesmo uma legislação específica. As embalagens de agrotóxicos são um bom exemplo de eficácia da logística inversa, pois 95% delas são retornadas. Apesar disso, pilhas e baterias ainda tem uma arrecadação tímida e necessitam de mais políticas de incentivo.
“É hora de apertar a torneira” trata da importância da vazão ecológica. A vazão mínima de um rio é a que garante a sobrevivência deste, enquanto a vazão ecológica é a quantidade de água necessária para a sobrevivência não só do rio, mas também do seu ecossistema. Esses conceitos de vazão são extremamente importantes para a gestão do rio São Francisco. É importante estipular as vazões do rio pois este é utilizado de diversas formas como irrigação, abastecimento humano, mineração, indústria, navegação e principalmente a produção de energia elétrica. Com isso é importante também estipular a chamada vazão alocável, que é a quantidade máxima de água que pode ser retirada do rio sem ultrapassar a vazão mínima ou ecológica. O São Francisco enfrenta um problema quanto a isso devido as hidrelétricas que controlam a vazão por meio das comportas. Outro problema é que não há água suficiente para respeitar a vazão ecológica garantindo os usos atuais e ainda realizar a transposição.
O tópico seguinte discute a importância da saúde ambiental para a saúde pública. Fatores como saneamento e destinação de resíduos são essenciais para reduzir doenças como diarréia, dengue e esquistossomose na população. Há também a questão da poluição, muito evidente nas grandes cidades, que é responsável por vários problemas de ordem respiratória nas pessoas. O Ministério das Cidades é responsável pelas políticas públicas nas cidades com mais de 50 mil habitantes, porém nas cidades menores, a questão da saúde ambiental se torna mais complicada por estes locais possuírem pouco acesso ao dinheiro e informação. É interessante ressaltar também a diferença do tratamento da questão ambiental entre as cidades maiores e as cidades pequenas. Não se trata da mesma forma as regiões de lavoura e as de ocupação industrial.

Uma entrevista com Robert Hughes, pesquisador norte-americano salienta a importância da utilização do Índice de Integridade Biótica (IBI) para a preservação dos ambientes aquáticos do Brasil. Este índice é utilizado para estabelecer o quanto um ambiente aquático está sendo prejudicado pela ação do homem. Hughes aponta que para essa medida se tornar eficiente no Brasil, é necessário reunir informações a respeito dos ecossistemas e características dos ambientes para criar metodologias a serem usadas em âmbito nacional. Ele exemplifica que após a criação desse índice, vários locais nos EUA tiveram uma boa recuperação e hoje já é possível nadar e pescar nesses locais.

Uma iniciativa interessante é mostrada no tópico “Projeções do rio”. Um projeto chamado Cinema no Rio tinha o objetivo de passar por várias cidades à beira do São Francisco exibindo filmes. Estruturas eram montadas em praça pública e lá eram projetados filmes que tratavam da região e causavam grande interesse na população local, não só pelo fato de mostrar as cidades de forma acessível, mas também por ser uma atração não usual em regiões pobres. O projeto pôde ser realizado após aprovação da lei de incentivo a cultura e causou grande impacto por onde passou. A equipe do Cinema no Rio também foi responsável por incentivar a criação de cineclubes nos lugares por onde passou.

A parte seguinte mostra a realidade de três pessoas diante do problema de trânsito de Belo Horizonte. Diana relata a realidade de quem usa o carro e enfrenta trânsito diariamente mas não tem saída, pois utilizar o transporte público deficiente de Belo Horizonte torna-se desconfortável. André conta das dificuldades de quem se locomove através de bicicletas devido à falta de ciclovias. Já Luanda mostra a sua experiência diária de horas dentro de um ônibus para chegar à universidade. São discutidas então questões como melhoria do transporte público, a criação de vias que interliguem melhores as regiões da cidade sem que passem pelo centro e a “lenda urbana” que está se tornando a implementação de um sistema eficiente de metrô em Belo Horizonte.

O desvio dos esgotos do Arrudas, o by pass, não é exatamente responsável pela mortandade dos peixes no ecossistema Velhas. O by pass é utilizado apenas em épocas de chuva intensa, pois nessas épocas as ETEs não conseguem tratar todo o volume de água. O grande problema da mortandade é causado pela poluição difusa, que é quando as enxuradas carregam a poluição das ruas para o rio.

“Rede é gol” mostra como a parceria entre setor público, setor privado e sociedade civil podem contribuir para atingir interesses comuns em relação à revitalização do Rio das Velhas. No setor público, o Projeto incentiva mobilização, educação e pesquisa. Enquanto isso, o Manuelzão atua situando os principais problemas relacionados ao descumprimento da legislação. Para o setor privado propõe-se a criação de parcerias entre empresas para a discussão do resultado dos danos ambientais que podem ser causado por estas. Na sociedade civil, Francisco Vidal comenta que estabelecer redes e associações é fundamental para a criação de compromissos para promover mudanças.

Os causos do mestre Nelson Jacó são contados na última parte da revista. Nelson Jacó foi uma figura que marcou as tradições da cultura mineira e foi vencedor do prêmio Talentos da Maturidade, promovido pelo Banco Real, ao enviar seu conto “Histórias do macaco e o cavalo”.

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